Thelarca: o Marco Inicial do Desenvolvimento Mamário na Puberdade

Thelarca: Desenvolvimento Mamário na Puberdade

A thelarca — do grego thēlē (mama) e arkhē (começo) — é o primeiro sinal visível da puberdade feminina, caracterizado pelo surgimento do broto mamário. Essa etapa marca não apenas transformações estéticas, mas também profundas rearrumações hormonais e teciduais que pavimentam o caminho para a fertilidade.

Fundamentos Hormonais

Eixo HPG em ação

• A ativação do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas (HPG) inicia-se quando o hipotálamo libera pulsos de GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina).

• Em resposta, a hipófise anterior libera FSH e LH, que estimulam os ovários a secretarem estradiol.

Papel do estradiol

• O estradiol circulante induz a proliferação dos dutos mamários e a diferenciação do estroma conjuntivo.

• Em níveis baixos a moderados, é suficiente para o surgimento do broto mamário sem que ocorram ciclos ovulatórios regulares.

Mecanismos Teciduais

• Iniciação do broto mamário: surgimento de um nódulo subareolar, geralmente unilateral, que logo evolui para ambos os lados.

• Proliferação ductal: as células do epitélio ductal crescem, formando pequenos tubos que se estendem pelo estroma.

• Diferenciação estromal: fibroblastos, adipócitos e tecido conjuntivo remodelam-se para acomodar a rede ductal.

• Angiogênese: novos vasos sanguíneos garantem nutrição ao tecido em desenvolvimento.

Estadiamento de Tanner para Thelarca

Estágio	Descrição
T1	Sem desenvolvimento mamário (pré-puberal)
T2	Surgimento do broto mamário (thelarca)
T3	Aumento do volume mamário e escuro areolar
T4	Projeção secundária da aréola e do mamilo
T5	Mama madura, contorno homogêneo

• A thelarca corresponde ao estágio T2, geralmente entre 8 e 13 anos.

Faixa Etária e Variações

• Idade média de início: 10–11 anos, com variação fisiológica de 8 a 13 anos.

• Thelarca precoce (< 8 anos): investigar puberdade precoce central ou causas periféricas (exposição exógena a estrogênios, tumores produtores de hormônio).

• Thelarca tardia (> 13 anos): avaliar:

  • Nutrição (IMC muito baixo), exercícios intensos.

  • Disfunções endócrinas (hipogonadismo hipogonadotrófico, hipotireoidismo).

  • Síndromes genéticas (Turner, Síndrome de insensibilidade a andrógenos).

Fatores que Influenciam o Início da Thelarca

• Genética e etnia: hereditário e moduladores étnicos interferem em até 50% da variação.

• Índice de massa corporal (IMC): adipócitos produzem aromatase, convertendo andrógenos em estrógenos e potencialmente antecipando o sinal mamário.

• Exposição ambiental: disruptores endócrinos (plásticos, pesticidas) podem mimetizar ou bloquear hormônios sexuais.

• Estado nutricional: desnutrição atrasa; excesso calórico pode adiantar.

Abordagem Clínica

1. História clínica e exame físico: confirmar o estadiamento de Tanner, peso, altura, ritmo de crescimento.

2. Exames laboratoriais: dosagem de FSH, LH e estradiol; em casos de puberdade precoce, teste de GnRH.

3. Avaliação de maturação óssea: radiografia de mão e punho para comparar idade óssea à cronológica.

4. Imagem de mama: ultrassonografia em casos atípicos para excluir massas ou cistos.

Impactos Psicossociais e Educação

• Autoimagem: o surgimento precoce pode gerar autoconceito disruptivo; o tardio, insegurança.

• Diálogo aberto: informar família e escola para criar rede de apoio.

• Materiais didáticos: ilustrações dos estágios de Tanner e fluxogramas simplificados ajudam a menina a compreender cada fase.

Conclusão

A thelarca é mais que o início do contorno mamário: é um sinal de que o corpo está se preparando para a maturidade reprodutiva. Compreender seus mecanismos, variações e implicações clínicas garante intervenções precoces quando necessárias e fortalece o autocuidado e a autoestima da jovem em transição.

Márcia Pavão